O Colégio Estadual Doutor
Milton Santos está situado numa comunidade pobre onde a maioria das famílias
insere-se no mercado de trabalho de forma marginal: apenas 40% dos pais possuem
emprego fixo, sobrevivendo com salário mínimo ou menos; 65% fazem biscates.
Devido ao desemprego e o não se permitir sonhar muitos entram para a
marginalidade, tráfico de drogas, prostituição. As crianças são criadas pelas
avós, possibilitando assim as mães procuram algum ganha-pão, os pais em sua
maioria não assumem a paternidade, financeira e afetiva. Famílias estruturadas
são poucas. A gravidez entre as adolescentes é uma constate, levando várias
meninas a pararem de estudar e, principalmente, repetirem o ciclo familiar.
Boa parte do alunado
tem problemas de hiperatividade ou algum distúrbio emocional, alguns casos
diagnosticados e outros evidenciados pelo pedagógico. O medo convive com eles.
Refletir sobre suas ações e as reações que poderão vir a assumir é como colocá-los
diante de um tribunal. Acreditam que só existam duas decisões: culpa ou inocência.
A cultura silenciada
pelo protestantismo não faz mais parte do dia a dia dos discentes. Os
estudantes frequentam igrejas protestante e católica, uma minoria ao candomblé.
Os adolescentes tem
no futebol a igualdade tão sonhada. O único lazer é a quadra poliesportiva da
escola.
Uma das principais
dificuldades apresentada no processo ensino e aprendizagem é a dificuldade de
vislumbrar dias melhores tendo como instrumento os saberes sistematizados da
escola. A dificuldade de leitura e interpretação tem sua origem nos primeiros
anos de escola, não são sanados nos anos posteriores. A uma constante dúvida na
proficuidade do ensinamento escolar e sua aplicação no dia a dia do educando,
com isso temos a evasão como uma forma de indagação: “por que estou na escola?”
É observado que aos
poucos começaram a sonhar com os cursos universitários. Há uma expectativa de terminar
o Ensino Médio numa escola pública e concorrer com alunos de escolas públicas,
com negros e negras, com quilombolas. A concorrência será com seus iguais.
A Indústria de
Calçados e Produtos Alimentícios é quem mais emprega os jovens da comunidade.
É complexo e intricado
fazer com que uma geração sonhe com emancipação política de fato e de direito
quando todas as gerações anteriores não obtiveram esta oportunidade. É relevante
tentar certificar nossos jovens no saber sistematizado e validar os saberes do
cotidiano. Afinal a realidade nada mais é que uma pequena representação dos
saberes que no proporcionam os sonhos. A educação, o conhecimento pode até não
levar ao dinheiro, mas com certeza é o caminho para se estabelecer no mundo
como um agente transformador de seu meio.
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