
Superação de preconceitos e desconstrução do olhar sobre determinados agrupamentos sociais. Estas são algumas das consequências desejáveis do encontro histórico entre a primeira presidenta da história do Brasil, Dilma Rousseff, com o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos, Barack Obama, previsto para se realizar no dia 19 de março, próximo sábado, em Brasília.
Mesmo não tendo levantado essa bandeira durante sua campanha, Obama plantou esperança em negros de todo o mundo, que viram uma oportunidade única de provar, como dizia o slogan de sua campanha, “Yes, we can” (“Sim, nós podemos”, em inglês).
Dilma, por sua vez, é a representação máxima do potencial feminino em cargos políticos entre as mulheres brasileiras. Este encontro é uma prova simbólica de que os preconceitos não se justificam sob nenhum argumento e que todos são, sim, capazes, independentemente de raça, gênero ou formação.
Como prova de sua atenção aos africanos e membros da Diáspora, em sua primeira visita oficial ao País, Obama assinará um acordo de cooperação que baseará a atuação conjunta dos EUA e do Brasil no desenvolvimento de países africanos, além de outro, que estimulará as trocas comerciais entre os dois países. Novamente, um fato histórico.
QUESTÕES DE GÊNERO – O continente ainda passa por muitos conflitos de gênero, que se traduzem em violências, como a mutilação genital feminina, que ainda acontece em pelo menos 28 países da África, quatro do Oriente Médio, quatro da Ásia e em comunidades migrantes na Europa, América do Norte e Austrália. Um crime combatido pela Organização das Nações Unidas (ONU), mas ainda praticado contra cerca de 3 milhões de mulheres por ano.
Mulheres como Somali Waris Dirie, que afirma: “Desmaiei muitas vezes. É impossível descrever a dor que se sente”. Dirie nasceu num vilarejo da Somália e foi mutilada aos cinco anos. Hoje, é modelo e ativista contra a mutilação genital feminina em uma fundação que leva o seu nome. Além disso, é embaixadora da ONU contra a mutilação feminina.
SUPERAÇÃO – Histórias como a desta modelo se repetem mundo afora. Mulheres que superaram uma situação de humilhação e tortura e hoje servem de exemplo a milhões de outras. No Brasil, temos Maria da Penha, que, após ser agredida pelo marido por muitos anos, ficou paralítica, tornou-se grande ativista e deu nome a uma lei que reprime a violência contra a mulher.
Presa e torturada durante a ditadura militar, Dilma Rousseff manifesta-se, frequentemente, contra todo tipo de violência, declarando-se orgulhosa por ter vencido obstáculos e ser a primeira presidenta do Brasil: “Venho para abrir portas para que muitas outras mulheres também possam, no futuro, ser presidenta; e para que [...] todas as brasileiras sintam o orgulho e a alegria de ser mulher”, afirmou, no discurso de posse no Congresso.
QUESTÕES ÉTNICAS – Para Barack Obama, as coisas também foram complicadas. Sua trajetória política foi marcada por desafios. Determinado, foi o primeiro negro a ser presidente da Harvard Law Review, revista criada na universidade de Direito de Harvard, e único senador afro-americano na legislatura anterior à sua posse como presidente dos EUA.
Em 2009, veio o reconhecimento. Além de iniciar seu mandato, Barack Obama recebeu o prêmio Nobel da Paz, “pelos extraordinários esforços para reforçar o papel da diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”.
RIO DE JANEIRO – De Brasília, Obama segue para o Rio de Janeiro, onde visitará uma Unidade de Polícia Pacificadora em um morro carioca com o governador do estado, Sérgio Cabral. Um discurso aos brasileiros está previsto para o domingo, dia 20, na Cinelândia, no centro da Cidade Maravilhosa.
O encontro de uma mulher, Dilma, presidenta do país com o maior número de negros fora do continente africano; e de um negro, Obama, presidente do país mais economicamente poderoso do mundo, demonstra que o planeta está se transformando, e que a realidade de mulheres, negros e mulheres negras tende a mudar. Simbólica e politicamente, este encontro é significativo, e marcará uma agenda política pautada pela diversidade e pelo fim do preconceito para os próximos anos.
Por Joceline Gomes
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