quarta-feira, 11 de julho de 2012

BARRO PRETO: PRESENTE






















As contratações realizadas através de Prestação de Serviço Temporário - PST, funcionário e docente, e Os funcionários terceirizados devem residir na comunidade a qual a escola está inserida: Comunidade Remanescente Quilombola do Barro Preto.
Antes da implantação do projeto estes servidores, temporários e terceirizados, bem como os monitores do Mais Educação, eram indicados pela DIREC 13, pessoas influentes na sociedade jequieense, políticos e ou grau de parentesco com funcionários efetivos da escola. Esta prática tornava a escola e alunos reféns dos seus próprios funcionários. O fim dos funcionários não era tratar bem a comunidade e todos os que procuravam a escola, e sim agradar as pessoas que os indicaram para tal função. As faltas ao serviço eram constantes, o sentimento de pertença não era desenvolvido e, o pior, estas pessoas se colocavam como superiores a comunidade a qual estavam servindo, Barro Preto.
 Outra realidade é que os moradores do Barro Preto e ou estudantes da nossa escola, Colégio Estadual Doutor Milton Santos, tem dificuldade de adentrar no mundo do trabalho formal por determinados motivos sociais. Este panorama foi o fomentador da implementação do projeto inserido no Projeto Político Pedagógico da Escola.

Desenvolver e aprimorar o sentimento de pertença pelo bairro Barro Preto e principalmente pela escola;
 Instrumentalizar a comunidade do entorno com o acesso a administração pública e sua real função social;
 Oportunizar o primeiro emprego, até para pessoas que não tiveram acesso a escola por uma exclusão étnica e social;
 Valorizar as preciosidades da comunidade e apresentar a sociedade jequieense os diversos fatores positivos de uma comunidade periférica e remanescente quilombola;
 Elevar a auto-estima das pessoas que historicamente foram excluídas da escola e do ser cidadão na sua plenitude;

2007 - Conscientização da comunidade escolar que não bastava ser parente de um professor, ser indicado por um político ou pela DIREC 13 para ser funcionário da nossa escola precisava antes de qualquer coisa ter pertencimento ao meio;

2007 - quebrar o ciclo vicioso de ter sempre uma oportunidade para burlar a Lei em benefício de um indivíduo;

2008 - Parceria com a Associação do Barro Preto para divulgar os trabalhos realizados dentro da escola, divulgar o que é ser uma escola quilombola e estar dentro de uma comunidade quilombola urbana;

2008 - Apoio da DIREC 13, na pessoa do diretor Roberto Gondim, para dar autonomia à escola escolher seus parceiros/funcionários.

2009 - Trabalhar com a elevação da auto-estima dos estudantes, pais, mães, avós, avôs, professores, funcionários, todos os envolvidos no processo de construção identitária da escola quilombola.

2010 - Contratação de pessoas moradoras da comunidade, estudantes da escola, engajadas no processo de divulgação do real processo histórico do povo negro e a formação da nossa sociedade.

2011 - Parceira com o IEL, Instituto Evaldo Lodi, para apresentar o nosso estudante ao trabalho formal fora da comunidade.

2011 - Ratificar para a atual gestora da DIREC 13 a importância de a escola poder ter no seu seio moradores da comunidade, não como "amigos da escola", mas como construtores do saber e com remuneração formal.

2012 - Entender a dificuldade de alguns estudantes para enxergarem o serviço público com a função suprema de servir ao público;

2012 - Valorizar os saberes construídos fora da escola e apresentá-los ao saber formal.
Reconstruir a identidade de uma escola quilombola é um processo lento, essencial, e como eu já tinha uma caminhada junto ao ODEERE - Órgão de Relações Étnicos e Raciais, como estudante do processo histórico de formação do povo brasileiro e a negação da participação do negro neste processo, assim que assumi a direção da escola comecei a observar a falta de apreço dos servidores em estarem atuando numa escola periférica, constituída principalmente de negros e negras. Estamos envolvidos, dentro de um processo que não tinha a cara, real, do povo Brasileiro. Os estudantes não percebiam o descaso para com o desenvolvimento de seus saberes; os docentes não viam nos estudantes cidadãos construtores da sociedade brasileira; e, a escola fazia de conta que não estava percebendo o processo decadente que a fazia ser conhecida nos meios educacionais de forma negativa.
 Diante desta realidade reuni um grupo, Prof. Evilúzia, Prof. Pinto, moradora da comunidade Iraci Barbosa, Prof. Maria Lúcia Barreto, e juntos decidimos que a comunidade não merecia uma educação sem qualidade, um atendimento desprezível por parte dos servidores da escola nem muito menos como caridade.
 Apresentamos a história do negro no Brasil e o envolvemos no processo pum uma nova escola, com a cara de seus antepassados e principalmente com a cara da comunidade do entorno.
 Conseguimos abrir o caminho, mas até hoje temos que estar sempre provando por a + b que o negro é tão gente quanto o branco; a periferia é parte essencial da formação urbana; o mal não estar em ser pobre e preto, mas em não conhecer e valorizar sua história; servidor público é para servir o público; para entender o processo de uma comunidade é preciso estar inserida no processo ser morador; a auto-estima é o primeiro passo para pertencer.
Em todo as reuniões com gestores de outras comunidades essa prática é colocada como um fator positivo na administração pública. O pertencimento e a sabedoria de enxergar e valorizar os saberes de um grupo é o grande passo para transformação social, a qual tanto sonhamos.
 Na antiga gestão da DIREC 13 esta proposta era disseminada e praticada, já na atual gestão vem sendo rebatida. Todas as vezes que tem uma vaga na escola é preciso começar uma luta com as palavras para convencer a DIREC 13 que a escola precisa ser povoada pelo seu povo e não por partidários e/ou amigos.
 Quando povoarmos as escolas com as pessoas da comunidade, com estudantes da Unidade e de idealistas práticos de uma sociedade com oportunidades para todos teremos a troca dos saberes; e como conseqüência a valorização do saber informal e do saber formal.
Como a proposta está inserida no Regimento e nas Boas Práticas da escola a perspectiva de continuidade é plena. Independe de quem estar gerindo a escola, pois a comunidade sabe que pode e deve estar presente no processo de formação do seu povo, ser bem informada e valorizar os saberes e saberes existentes.
O resultado principal da ação é perceber o brilho no olhar da comunidade escolar de saber que são construtores, e não mais meros produtos do sistema educacional de escola pública de periferia.
 O saber do povo é reconhecido e vivenciado dentro da escola, com todas as problemáticas que agora recebem soluções;
 A comunidade do Barro Preto se enxerga na administração da escola, é um pertencimento coletivo e individual.
Não existe economia financeira já que os funcionários, agora contratados de dentro da comunidade ou do corpo discentes, recebem a mesma remuneração que os outros recebiam.
 A economia ser sentida em outros setores, já que o ser humano bem tratado, bem valorizado, bem respeitado consegue colocar em prática seu fazer cidadão seu apreço pelo público.
É processual e contínua.

Não podemos mensurar o bem que faz saber pertencente a um grupo que foi construtor da história e é responsável pela sociedade sonhada por todos.
 Imensurável ver humano da periferia com todas as oportunidades que a elite social tem e, principalmente, com o direito de aprender, errar, refazer, errar e acertar.
 As vezes percebemos que muitos vem esta ação como um processo de lançamento de candidatura de alguém do corpo gestor, não sabendo eles que já fomos eleitos para estarmos dentro de uma comunidade bela, com muito axé, que é o Barro Preto e o COLÉGIO ESTADUAL DOUTOR MILTON SANTOS e mais ainda estarmos aprendendo a história com eles.

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