
As contratações realizadas através de Prestação de Serviço
Temporário - PST, funcionário e docente, e Os funcionários terceirizados devem
residir na comunidade a qual a escola está inserida: Comunidade Remanescente
Quilombola do Barro Preto.
Antes da implantação do projeto estes servidores,
temporários e terceirizados, bem como os monitores do Mais Educação, eram
indicados pela DIREC 13, pessoas influentes na sociedade jequieense, políticos
e ou grau de parentesco com funcionários efetivos da escola. Esta prática
tornava a escola e alunos reféns dos seus próprios funcionários. O fim dos
funcionários não era tratar bem a comunidade e todos os que procuravam a
escola, e sim agradar as pessoas que os indicaram para tal função. As faltas ao
serviço eram constantes, o sentimento de pertença não era desenvolvido e, o
pior, estas pessoas se colocavam como superiores a comunidade a qual estavam
servindo, Barro Preto.
Outra realidade é que
os moradores do Barro Preto e ou estudantes da nossa escola, Colégio Estadual
Doutor Milton Santos, tem dificuldade de adentrar no mundo do trabalho formal
por determinados motivos sociais. Este panorama foi o fomentador da
implementação do projeto inserido no Projeto Político Pedagógico da Escola.
Desenvolver e aprimorar o sentimento de pertença pelo bairro
Barro Preto e principalmente pela escola;
Instrumentalizar a
comunidade do entorno com o acesso a administração pública e sua real função
social;
Oportunizar o
primeiro emprego, até para pessoas que não tiveram acesso a escola por uma
exclusão étnica e social;
Valorizar as
preciosidades da comunidade e apresentar a sociedade jequieense os diversos
fatores positivos de uma comunidade periférica e remanescente quilombola;
Elevar a auto-estima
das pessoas que historicamente foram excluídas da escola e do ser cidadão na
sua plenitude;
2007 - Conscientização da comunidade escolar que não bastava
ser parente de um professor, ser indicado por um político ou pela DIREC 13 para
ser funcionário da nossa escola precisava antes de qualquer coisa ter
pertencimento ao meio;
2007 - quebrar o ciclo vicioso de ter sempre uma
oportunidade para burlar a Lei em benefício de um indivíduo;
2008 - Parceria com a Associação do Barro Preto para
divulgar os trabalhos realizados dentro da escola, divulgar o que é ser uma
escola quilombola e estar dentro de uma comunidade quilombola urbana;
2008 - Apoio da DIREC 13, na pessoa do diretor Roberto
Gondim, para dar autonomia à escola escolher seus parceiros/funcionários.
2009 - Trabalhar com a elevação da auto-estima dos
estudantes, pais, mães, avós, avôs, professores, funcionários, todos os envolvidos
no processo de construção identitária da escola quilombola.
2010 - Contratação de pessoas moradoras da comunidade,
estudantes da escola, engajadas no processo de divulgação do real processo
histórico do povo negro e a formação da nossa sociedade.
2011 - Parceira com o IEL, Instituto Evaldo Lodi, para
apresentar o nosso estudante ao trabalho formal fora da comunidade.
2011 - Ratificar para a atual gestora da DIREC 13 a
importância de a escola poder ter no seu seio moradores da comunidade, não como
"amigos da escola", mas como construtores do saber e com remuneração
formal.
2012 - Entender a dificuldade de alguns estudantes para
enxergarem o serviço público com a função suprema de servir ao público;
2012 - Valorizar os saberes construídos fora da escola e
apresentá-los ao saber formal.
Reconstruir a identidade de uma escola quilombola é um
processo lento, essencial, e como eu já tinha uma caminhada junto ao ODEERE -
Órgão de Relações Étnicos e Raciais, como estudante do processo histórico de
formação do povo brasileiro e a negação da participação do negro neste
processo, assim que assumi a direção da escola comecei a observar a falta de
apreço dos servidores em estarem atuando numa escola periférica, constituída
principalmente de negros e negras. Estamos envolvidos, dentro de um processo
que não tinha a cara, real, do povo Brasileiro. Os estudantes não percebiam o
descaso para com o desenvolvimento de seus saberes; os docentes não viam nos
estudantes cidadãos construtores da sociedade brasileira; e, a escola fazia de
conta que não estava percebendo o processo decadente que a fazia ser conhecida
nos meios educacionais de forma negativa.
Diante desta
realidade reuni um grupo, Prof. Evilúzia, Prof. Pinto, moradora da comunidade
Iraci Barbosa, Prof. Maria Lúcia Barreto, e juntos decidimos que a comunidade
não merecia uma educação sem qualidade, um atendimento desprezível por parte
dos servidores da escola nem muito menos como caridade.
Apresentamos a
história do negro no Brasil e o envolvemos no processo pum uma nova escola, com
a cara de seus antepassados e principalmente com a cara da comunidade do
entorno.
Conseguimos abrir o
caminho, mas até hoje temos que estar sempre provando por a + b que o negro é
tão gente quanto o branco; a periferia é parte essencial da formação urbana; o
mal não estar em ser pobre e preto, mas em não conhecer e valorizar sua
história; servidor público é para servir o público; para entender o processo de
uma comunidade é preciso estar inserida no processo ser morador; a auto-estima
é o primeiro passo para pertencer.
Em todo as reuniões com gestores de outras comunidades essa
prática é colocada como um fator positivo na administração pública. O
pertencimento e a sabedoria de enxergar e valorizar os saberes de um grupo é o
grande passo para transformação social, a qual tanto sonhamos.
Na antiga gestão da
DIREC 13 esta proposta era disseminada e praticada, já na atual gestão vem
sendo rebatida. Todas as vezes que tem uma vaga na escola é preciso começar uma
luta com as palavras para convencer a DIREC 13 que a escola precisa ser povoada
pelo seu povo e não por partidários e/ou amigos.
Quando povoarmos as
escolas com as pessoas da comunidade, com estudantes da Unidade e de idealistas
práticos de uma sociedade com oportunidades para todos teremos a troca dos
saberes; e como conseqüência a valorização do saber informal e do saber formal.
Como a proposta está inserida no Regimento e nas Boas
Práticas da escola a perspectiva de continuidade é plena. Independe de quem
estar gerindo a escola, pois a comunidade sabe que pode e deve estar presente
no processo de formação do seu povo, ser bem informada e valorizar os saberes e
saberes existentes.
O resultado principal da ação é perceber o brilho no olhar
da comunidade escolar de saber que são construtores, e não mais meros produtos
do sistema educacional de escola pública de periferia.
O saber do povo é
reconhecido e vivenciado dentro da escola, com todas as problemáticas que agora
recebem soluções;
A comunidade do Barro
Preto se enxerga na administração da escola, é um pertencimento coletivo e
individual.
Não existe economia financeira já que os funcionários, agora
contratados de dentro da comunidade ou do corpo discentes, recebem a mesma
remuneração que os outros recebiam.
A economia ser
sentida em outros setores, já que o ser humano bem tratado, bem valorizado, bem
respeitado consegue colocar em prática seu fazer cidadão seu apreço pelo
público.
É processual e contínua.
Não podemos mensurar o bem que faz saber pertencente a um
grupo que foi construtor da história e é responsável pela sociedade sonhada por
todos.
Imensurável ver
humano da periferia com todas as oportunidades que a elite social tem e,
principalmente, com o direito de aprender, errar, refazer, errar e acertar.
As vezes percebemos
que muitos vem esta ação como um processo de lançamento de candidatura de
alguém do corpo gestor, não sabendo eles que já fomos eleitos para estarmos
dentro de uma comunidade bela, com muito axé, que é o Barro Preto e o COLÉGIO
ESTADUAL DOUTOR MILTON SANTOS e mais ainda estarmos aprendendo a história com
eles.
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